Jejum e cérebro

À primeira vista, a palavra “jejum” parece carregar uma carga negativa, remetendo a privações e angústias. O primeiro passo para romper esse estereótipo é entender como o nosso corpo reúne a energia necessária para funcionar. Em geral, a glicose é o principal combustível do organismo, que a utiliza para se manter em funcionamento. Quando ficamos algum tempo sem ingerir glicose, nosso corpo dá um jeito de “fabricá-la”. E ele faz isso decompondo uma substância presente em nossos músculos, o glicogênio. Esse processo é chamado “gluconeogênese”. Entretanto, nosso corpo pode gerar energia a partir de outra “matéria-prima”, utilizando a gordura como combustível no lugar da glicose. Esse método provoca a produção de corpos cetônicos e está diretamente relacionado ao jejum e à restrição calórica. As pesquisas têm mostrado que o estado de cetose é capaz de exercer um importante papel neuroprotetor. *Cetose, Jejum e Cérebro

O corpo não só pode utilizar energia a partir da queima de gordura como essa energia é mais eficiente que a energia obtida da glicose. Os estudos mostram que tanto o cérebro quanto o coração têm sua performance melhorada em 25% quando “movidos” à base das cetonas, nome dado às gorduras após sua decomposição em moléculas especializadas.

O beta-hidroxibutirato (beta-HBA) é uma dessas cetonas, sendo considerada um supercombustível para nosso cérebro e, em um estudo realizado na Faculdade de Medicina de Harvard, foi capaz de proteger células neurais contra toxinas associadas a Parkinson e Alzheimer.

Quando estamos em jejum, há estímulo para a criação de novos neurônios e manutenção dos existentes. O jejum também desintoxica o organismo, promove a redução de processos inflamatórios e estimula a produção de antioxidantes que protegem o cérebro.

As pesquisas vêm provando que o jejum impõe um leve estresse sobre as células cerebrais, forçando-as a aumentar sua capacidade de resistir a estresses mais graves. Em uma experiência publicada no Journal of Nutritional Biochemistry, os cientistas demonstraram que as células cerebrais de camundongos em regime de jejum eram mais resistentes à ação oxidante de radicais livres (continua nos comentários).

Em resumo, quando o cérebro usa cetonas como combustível, até a apoptose (suicídio celular) se reduz. Ao mesmo tempo, nossas mitocôndrias são replicadas, aumentando a produção de energia e fazendo o cérebro funcionar melhor.

E afinal, entrar em estado de cetose é saudável? Nas palavras do jornalista científico Gary Thaubes: “podemos definir a cetose moderada como o estado normal do metabolismo humano quando não estamos ingerindo os carboidratos que não existiam em nossas dietas durante 99,9% da história humana. Desta forma, pode-se afirmar que a cetose não apenas é uma condição natural, mas até particularmente sadia”. A frase de Thaubes vai ao encontro do que nos diz o best-seller “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade”, no qual o historiador Yuval Noah Harari chama a atenção para o seguinte fato: a alimentação do Homo sapiens foi baseada em caça e coleta por 2,5 milhões de anos. A transição para a agricultura (e para uma dieta rica em glicose) só começou há cerca de 10 mil anos. Logo, na maior parte de sua existência, nossa espécie esteve habituada ao estado cetogênico.

ATENÇÃO

Antes de começar qualquer dieta ou tratamento, procure um profissional habilitado para uma avaliação individualizada.


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